2009-06-09

VA Flakes

A base de todos os VA flakes são tabacos do tipo Virginia, e, tanto quanto sei (daqueles que experimentei), em nenhum caso são VAs puros, têm sempre uma quantidade consideravel de Burley. Num mundo perfeito, nenhum destes tabacos teria aromatizantes adicionados, sendo que os diferentes sabores seriam dados pela selecção dos VAs, enquanto que o Burley apenas serviria para estabilizar a queima e dar algum corpo. Na verdade, a probabilidade de o Burley servir de veiculo para algum sabor extremamente subtil é grande, mas uma analise dessas só poderá ser feita por um palato muito mais educado que o meu.
Os VA Flakes que tenho estado a fumar nos últimos tempos são:
[PUvF]: Peterson University Flake, por milagre está disponivel em Portugal, apesar de custar 21€ considero que é um sacrificio aceitavel.
[RNC]: Richmond Navy Cut. Aparentemente só disponivel na Alemanha, mas a lata diz "made in Denmark" pelo que é possível que também seja feito pela Orlik.
[OGS]: Orlik Golden Sliced. Disponivel em latas de 50 e de 100g o que é excelente, porque estas latas tendem a esvaziar-se misteriosamente a alta velocidade.
[FVF]: Samuel Gawith Ful Virginia Flake. Provavelmente o mais divulgado e vendido de todos, ainda só tive hipotese de experimentar a versão bulk mas estou a partir do principio que é mais ou menos a mesma coisa, apesar de por vezes isso não ser nada verdade.

A caracteristica que considero mais interessante nos VA e especialmente nos flakes é que o último 1/3 da fumada é normalmente o melhor. Isto acontece porque o tabaco que está no fundo vai sendo lentamente cozinhado pelo fumo e quando a fumada é suficientemente lenta produz no fim um sabor doce que para mim é absolutamente delicioso.

Tipicamente o primeiro 1/3 tem um sabor claro e frutado, ás vezes consigo sentir um sabor ligeiramente cirtico. Dizem as reviews que o OGS tem um ligeiro sabor a bergamota. Talvez tenha, mas certamente não me faz lembrar o chá Earl Grey que é a única coisa que eu conheço que sabe a bergamota (e eu gosto). É importante aqui que se fume o mais lentamente possível (o que me exige um grande auto controle) porque existe aqui alguma possibilidade de tongue bite, o que não nos iria deixar com paciência suficiente para saborear o último 1/3 em boas condições.

O segundo 1/3 é caracterizado especialmente pelo Burley, o sabor é mais apagado mas acontecem alguns flashes de doce. Há aqui alguma tendência para puxar com mais força, o que vai levar a um aquecimento maior do cachimbo, mais uma vez deve-se ter auto-controle para não estragar tudo. Julgo que também é durante esta fase que existe a maior libertação de nicotina. Isto é por demais evidente no PUvF que julgo ser o mais forte dos 4, talvez tenha simplesmente mais Burley que os outros.

Para mim o último 1/3 é o melhor da festa. É também a zona onde verifico a existência das maiores diferenças entre os 4. A diferença principal é não apenas no grau da doçura (mais ou menos doce) mas principalmente no sabor da doçura, é muito dificil explicar isto por palavras. Não se trata apenas de um shot de açucar ou de um sabor pesado a mel como acontece em alguns aromáticos, é mais o aftertaste que fica na boca depois de o fumo sair e do cheiro que se sente pelo nariz quando se faz o fumo passar por lá. É um aroma/sabor muito mais escuro do que o que se sente no primeiro 1/3 e é produzido principalmente pelos VAs mais maduros (vermelhos) que foram lentamente cozinhados e estão agora prontos para produzir todo o seu sabor.
A minha classificação para esta parte da fumada é (por ordem crescente): PUvF, FVF, OGS e RNC.

Esta classificação diz exclusivamente respeito ao gosto pessoal, não seria justo nesta comparação dizer que um é melhor que o outro. Se fosse mesmo obrigado a isso a única coisa que faria era colocar o PUvF num patamar ligeiramente abaixo dos outros 3.

Há alguns factores técnicos a ter em conta para fumar estes flakes. Seria bom ter o comentario de alguém com mais experiencia do que eu, que já tivesse fumado Kg destes flakes em vez de apenas meras gramas como eu, mas enfim, é o que eu concluí das experiências que fui fazendo e também de alguns conselhos que me foram dando.

a) O tempo. Com excepção do PUvF que se despacha em cerca de 1 hora é bom que se tenha entre 90 a 120 minutos disponiveis para saborear esta cachimbada. É o meu material preferido para ir para o trabalho de manhã, ir da Parede para Lisboa quer pela A5 quer pela Marginal dá-me o tempo suficiente para saborear com toda a calma este tipo de tabaco. À volta já não estou com paciência suficiente, pelo que normalmente fumo uma mistura com latakia (actualmente Squadron Leader) ou um balkan como o Presbyterian.

b) O cachimbo. É um desperdicio fumar este tipo de tabaco num cachimbo pequeno. Dado que se quer tirar partido do factor de cozinhar o tabaco do fundo também julgo que fará mais sentido usar um cachimbo mais alto do que largo, pelo que, em principio, um billiard será mais indicado que um pot. Estou à espera de receber da EBay uma chaminé para testar melhor este conceito. Pelo mesmo princípio, um dublin também será apropriado, talvez mesmo mais apropriado que um billiard, já um vulcanno não deverá ser uma boa escolha. Infelizmente não tenho nenhum meerschaum, mas certamente que esta será uma experiência a fazer.

c) O packing. Aqui é que a porca torce o rabo. É praticamente impossível dizer qual é o melhor processo para carregar um flake. Não recomendo que levem muito a sério as minhas indicações neste campo porque sei que não tenho experiência suficiente. O que verifiquei foi que o PUvF funciona melhor fully rubbed. Não sei porquê mas não gostei das vezes que o tentei fumar folded, pode ter havido ou não outros factores a que não prestei a devida atenção. É diferente com os outros 3. Especialmente com o FVF não gostei nada de o fumar fully rubbed, foi uma fumada completamente inconsequente, não havendo praticamente nenhuma separação de sabor entre as várias partes. De modo que acabei por adoptar uma estratégia mista. Separo o tabaco em 2, 1/4 para ser rubbed e 3/4 para ser folded. Encho primeiro o cachimbo com a parte folded e tapo o cimo com o tabaco rubbed, fazendo alguma força. Julgo que isto também reduz a necessidade de re-acender o cachimbo, embora seja perfeitamente normal que um tabaco em flakes necessite de mais relights que um tabaco cortado em ribbon.

d) Tapping. Ás vezes é irresistivel. Já se re-acendeu tantas vezes que cedemos à tentação e tentamos ajustar as coisas. Invariavelmente o resultado não é grande coisa, se calcamos muito o tabaco estragamos tudo no que diz respeito à separação dos sabores, deve-se apenas ir calcando a cinza para a manter compacta. A maior parte das vezes quando não fumo no carro acabo sempre por calcar demasiado, depois o cachimbo aquece e tenho que parar um bocado, quando volto a acender nem sempre as coisas se compoem... O que me irrita é que acabei de fazer isso neste mesmo instante... :-(

Em conclusão. Embora goste muito de misturas Inglesas com latakia, perique e orientais considero que os VA flakes são também um tipo de tabaco extremamente saboroso, têm apenas a desvantagem de ser algo trabalhosos quer na preparação quer na própria fumada, mas no pain, no gain, e neste caso é isso mesmo.

Ainda vou explorar melhor o Balkan Flake do Samuel Gawith, segundo as reviews não é na verdade um Balkan mas apenas o FVF+Latakia, quem tentou tirar nabos da pucara perguntanto à Samuel Gawith recebeu apenas como resposta a indicação que a Latakia no fundo também é um Oriental...

Há muitos outros VA Flakes a experimentar, alguns muito bem recomendados, como os da C&D e do GL Pease. Haverá certamente outras oportunidades.

Boas cachimbadas...

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